Será preciso ressuscitar Rui Barbosa? Disputa entre Tibau-RN e Icapuí-CE relembra batalha histórica envolvendo Grossos
A polêmica envolvendo a instalação de uma placa de divisa estadual pela Prefeitura de Icapuí-CE, em território que a Prefeitura de Tibau-RN considera potiguar, reacendeu uma antiga e emblemática discussão: os limites territoriais entre o Ceará e o Rio Grande do Norte.
Mas, afinal, será preciso ressuscitar Rui Barbosa para resolver essa questão?
Para quem não lembra — ou nunca soube — esse tipo de disputa já aconteceu há mais de 100 anos. E foi justamente a região de Grossos que esteve no centro da batalha judicial que atravessou décadas e envolveu os dois estados.
Um território desejado desde o século XVIII
Por volta de 1760, o Sargento-Mor Antônio de Souza Machado se estabeleceu na região que hoje compreende Grossos, junto com seu cunhado José Alves de Oliveira. Juntos, implantaram fazendas de criação de gado e abriram as primeiras oficinas de carne de charque da região, abastecendo o mercado até o Sul do país.
O nome “Grossos” vem da famosa Ilha dos Capins Grossos, coberta por um capim resistente e espesso, que acabou batizando o território.
Com o tempo, a importância econômica da localidade despertou o interesse do Ceará, que chegou a transformar a região em vila. Começava, assim, um dos mais longos conflitos territoriais do Nordeste.
Rui Barbosa entra em cena
A disputa foi parar no Supremo Tribunal Federal. E foi ninguém menos que o jurista, político e Senador da República, Rui Barbosa, quem assumiu a defesa do Rio Grande do Norte.
Com sua conhecida eloquência e profundo conhecimento jurídico, Rui apresentou provas históricas, mapas e argumentos sólidos que desmontaram as pretensões do Ceará. O STF decidiu a favor do RN em 17 de julho de 1920, e a região de Grossos passou a ser, de forma definitiva, território potiguar.
Décadas depois, em 11 de dezembro de 1953, Grossos se emancipou de Areia Branca. Àquela altura, Tibau ainda era um distrito pertencente a Grossos — só se emancipando oficialmente em 1997.
Nova disputa, velhas lembranças
Agora, em pleno 2025, a instalação de uma nova placa por parte do Governo do Ceará reacende o debate. A Prefeitura de Tibau reagiu, publicou o Decreto Municipal nº 075/2025, adotando providências para resguardar os limites considerados pela administração tibauense como território potiguar.
Se por um lado o embate parece menor que o de 1920, por outro, expõe a necessidade de diálogo, clareza documental e respeito à história.
E, diante de tudo isso, a pergunta volta com força: será que teremos que ressuscitar Rui Barbosa para resolver essa história de novo?
Nessa história tá faltando diplomacia, humildade e bom censo e sobrando arrogância de ambas as partes.